No curso de Educação Física aprendemos que a China talvez seja a que possua a mais antiga história do esporte na cultura ocidental e, provavelmente, foi a que mais influenciou a Educação Física no extremo mundo oriental. Há registros que remontam à sociedade chinesa o fenômeno de ter criado o esporte que hoje chamamos de futebol (tsu-chu) – devemos a eles a inauguração desse fenômeno esportivo. Os chineses, reconhecidos como hábeis caçadores, lutadores, nadadores, praticantes de esgrima e hipismo, desde o século III a. C. já demonstravam atenção para o conteúdo ético-pedagógico em jogos esportivos, de modo especial o futebol. Naquele tempo, a origem dos famosos “Jogos Gregos”, entre eles os “Olímpicos”, aconteciam com apenas 8 provas, a saber: corrida de carros, pugilato (luta com punhos, a soco, por vezes levava à morte os combatentes), luta, corrida a pé, combate armado, arremesso de bola de ferro, arco e flecha e arremesso de lança (OLIVEIRA, 1985).

            Tomando como base tal contextualização, um convite é lançado: vamos pensar no esporte como uma obra de arte? Esse é mote principal a ser refletido neste texto. Se pensarmos na obra de arte como algo eterno, em que essa eternidade é o seu grande valor, a arte, portanto, vai falar às gerações vindouras por si só. Diz Cunha e Gonçalves (2015, p. 56), “a arte é intuição. É na intuição que conseguimos alcançar a excelência da liberdade”. Essa arte que o esporte constrói tem sido materializada a cada espetáculo que o mundo esportivo proporciona, em que os protagonistas desses fenômenos são os atletas que a praticam.

            Enquanto Cunha e Gonçalves (2015) trazem o conceito de arte, apropriando-se dos estudos de David Hume, Leão Tolstói, Friedrich Nietzsche e Martin Heidegger, emprestando o sentido filosófico de tais autores, o que pretendo explorar nessa reflexão é o sentido de enxergar o esporte como obra de arte que modifica, afeta, emociona transforma: tanto para quem o pratica, quanto para quem o contempla e assiste.

            Poder vivenciar uma era olímpica, ou melhor, acompanhar os Jogos Olímpicos acontecendo em nosso país, seja pela TV ou pessoalmente, sem sombra de dúvidas é um grande privilégio. Por detrás de cada vitória, empate ou derrota nas olimpíadas, nos esportes individuais ou coletivos, façamos uma reflexão e pensemos que grandes técnicos e professores de Educação Física ali estavam presentes, seja nos bastidores, ou ao lado das quadras, piscinas e campos.

            Educação Física é uma área de conhecimento capaz de transformar. Há transformações em vários sentidos e dimensões. É importante destacar que a corrente francesa exerceu grande importância e influência em nosso país. Foi de lá, daquele canto europeu, que chegaram os primeiros estímulos que vieram a constituir os alicerces da Educação Física brasileira. E foi a ginástica a primeira modalidade introduzida por militares, no século XIX, período em que foi fundado o primeiro instituto de ginástica para o exército, em 1819 (OLIVEIRA, 1985).

O que podemos observar hoje, no Brasil, é uma geração que também se destaca e coloca o país entre os melhores do mundo. A participação de atletas jovens da ginástica artística foi muito bonita nos jogos, mesmo com trajetórias de fracassos e conquistas construídas ao longo dos anos. O exemplo de superação, lutas contra a depressão, críticas e preconceitos, são possíveis de serem considerados e exaltados por atletas brasileiros.

            A partir de uma era que plantou sementes num território fértil, como o do Brasil, ainda no século passado, fez com que ao passar dos anos o esporte ganhasse forças e atingisse grandes dimensões. As maiores conquistas do esporte brasileiro aconteceram à medida que foram sendo implementadas, nas escolas, a Educação Física como prática esportiva – que na época de implantação era restrito apenas à sociedade militar.

            Os Jogos Olímpicos, evento esportivo que reúne os melhores atletas do mundo, é, sem dúvidas, uma grande odisseia. É um acontecimento ímpar, em que cinco continentes reúnem-se para celebrar o que o mundo do esporte tem de mais belo, os jogos. Muitos autores destacam o jogo como elemento e fenômeno cultural, entre eles Huizinga e Brougère.

            Participar de uma olimpíada, sobretudo no Brasil, é participar de um fenômeno cultural que atravessa sonhos de muitos atletas brasileiros. É sonho de muitos esportistas de todo o mundo, afinal, os Jogos Olímpicos é o maior evento esportivo do planeta, que acontece apenas de quatro em quatro anos. Na edição de 2016 o Brasil superou a quantidade de medalhas que conquistou na última edição dos Jogos, em Londres, 2012. Em 19 pódios, com 7 medalhas de ouro, 6 de prata e 6 de bronze, a delegação brasileira encerrou a participação com louvor. O Brasil participou dessa celebração esportiva com mais de 300 atletas de altíssimo nível, classificados para competir entre os melhores do mundo.

            O esporte, nesse sentido, é considerado uma obra de arte porque ele nos emociona, nos encanta, nos faz sentir sensações e, sobretudo, nos faz torcer (a favor ou até mesmo contra). Depois de apresentar para o mundo que somos capazes de fazer uma abertura brilhante em Jogos Olímpicos, o Brasil, com cada atleta que vestiu a camisa para competir visando a vitória, representou cada modalidade esportiva olímpica com muita garra, força e patriotismo – visivelmente assistido nas transmissões midiáticas. A cerimônia de encerramento, vamos respeitar, foi brilhante!

Com triunfo e decepção nos mesmos espaços, a cada partida, combate ou prova de velocidade, presenciamos ouros, pratas e bronzes sendo colocados nos pescoços daqueles que melhores desempenharam cada modalidade. Dentre as várias que o Brasil participou, os esportes coletivos são, para mim, àqueles que mais emocionam. É com trabalho em equipe, num espírito de total coletividade que o êxito aparece.

O esporte é obra de arte, também, porque ele é apreciado por pessoas do mundo inteiro, crianças, jovens e velhos. O esporte, como nós da Educação Física também tomamos como objeto de estudo, é um elemento da cultura corporal – potencial agente de transformação. Nessa edição dos Jogos Olímpicos presenciamos atletas que subiram no lugar mais alto do pódio, em conquista do ouro, que iniciaram a vida esportiva por meio de ações e projetos sociais, como a luta. Muitos dos atletas que nosso país tem, ao contrário de outros países como os europeus e norte americano, advém de sociedades marginalizadas e periféricas, que através de incentivo e ingresso no meio esportivo, modificam e transformar realidades que refletem nas dimensões da vida social e profissional. O Brasil e outros países menos desenvolvidos é prova disso!

Aí incide um papel importante e que representa um grande significado, que é o do profissional de Educação Física. Este, para além de desempenhar um trabalho que enaltece o ser humano em sua complexidade corporal, é (co)responsável pela descoberta e desenvolvimento de grandes talentos. A profissão que trabalha com o esporte em sua máxima potência é apaixonante. O esporte, que carrega o espírito de respeito mútuo e competitividade, é sublime porque é realizado por seres humanos que constituem o conjunto de significações e as regras do jogo.

Foram tantos e tantos atletas que fizeram o seu melhor para bem representar a “camisa da seleção”. Por causa de centímetros, segundos ou milésimos, cartões amarelo, aterrisagens não cravadas, ventos excessivos, desequilíbrios, um ponto ou gol no esporte de quadra ou aquático, golpes inusitados ou até mesmo um tiro fora do alvo, muitos competidores deixaram de subir ao pódio. No esporte, que considero, aqui, como arte, detalhes são extremamente importantes, como em outras obras de artes.

O esporte é sublime porque nele acontecem fenômenos inusitados. Assistir uma seleção olímpica ser campeã, como vimos o futebol masculino, vencendo a mesma seleção que a derrotou de forma humilhante na Copa do Mundo, em 2014, é o que nos faz acreditar que no mundo esportivo as relações dialéticas também são possíveis – são as tensões do esporte. A consagração como o único país campeão olímpico no futebol e voleibol, dentro da “própria casa”, é inédito e ficará para a história. Aliás, muitos outros acontecimentos ficarão para a história, como Isaquias que conquistou 3 medalhas olímpicas na canoagem.

O curso de Educação Física da Unifimes destaca e parabeniza todos que participaram, com suas singularidades, habilidades e competências, dos Jogos Olímpicos – merecem muitos aplausos. Todos àqueles que atuaram de maneira direta e indireta da preparação e treinos dos competidores, durante esses anos, merecem ser exaltados e aplaudidos também. Palmas para os que miraram na cesta, no gol, no alvo, na linha de chegada, na caixa de areia, no sarrafo, nos tablados e tatames, enfim, à todos que tentaram. Aplausos para os que não alcançaram êxito no pódio, mas que tentaram.

Os Jogos Olímpicos,   que durante 17 dias foram obtiveram os holofotes do mundo mirados para o Brasil, certamente deixará um grande legado em nosso país. É evidente que existem inúmeras críticas, tantas e tantas coisas que ainda precisam ser arrumadas. O convite aqui consiste em convidar, você leitor, a olhar pelas lentes que enxergam a beleza nesse fenômeno cultural tão universal, o esporte olímpico. Trata-se de olhar como esta festa de confraternização mundial, organizada de modo a abarcar todos os continentes, aconteceu de maneira inovadora e com mensagem de conscientização e paz, com mais tecnologia, menos injusta e com um único objetivo, que o êxito fosse sempre para o melhor. 

            E que venham os Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão…

 

Referências

 

CUNHA, António Camilo; GONÇALVES, Sara Tiago. A criança e o brincar como obra de arte: analogias e sentidos. Braga: Printhaus, 2015.

 

OLIVEIRA, Vitor Marinho. O que é Educação Física? 10ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.

 

Prof. Dndo. Evandro Salvador A. de Oliveira – Coordenador do curso de Educação Física da Unifimes