Até há pouco tempo a União Europeia se apresentava como símbolo de uma nova humanidade. Além do seu invejável patrimônio cultural e de sua pujante economia, a União Europeia parecia estar conseguido derrubar centenários muros que a dividiram a Europa no passado. E neste clima ia abrindo suas portas para novos membros. Esparsas notícias sobre inquietações sociais, sobretudo provindas de certos setores jovens da  França, pareciam não passar de onda localizada e passageira.
     Foi a partir de setembro de 2008 que o mundo, uma vez mais, pôde constatar que "nem tudo o que reluz é ouro". A crise financeira manifestada na turbulência que sacudiu as bolsas logo se manifestou como crise econômica, de proporções inusitadas.
     A crise econômica, por sua vez, levantou interrogações profundas não só sobre o atual sistema econômico – financeiro, como também sobre a vocação da economia, contraposta à economia de mercado. Ou seja: em vez da busca por satisfazer as necessidades reais e básicas de todos, a economia passou a se manifestar como indústria da criação de necessidades artificiais, além daquela já conhecida indústria bélica, cada vez mais cara e  mais destruidora.
     Para bom entendedor, esses vários aspectos da crise vão apontar para outro ângulo, mas de fundamental importância para quem pensa que um mundo novo é possível: a crise de cunho ético. Não apenas valores econômicos se esvaem, mas também se esvaem sobretudo valores éticos, como os da solidariedade e da acolhida, só para lembrar dois deles.
     Nesse particular,  o que mais chama a atenção são projetos de lei, sobretudo na Itália, que se caracterizam justamente pela discriminação de  todo tipo. Razões étnicas, econômicas, sociais, e porque não, até religiosas e raciais, vão revelando um outro rosto da União Europeia.
    O que se passa na Itália é apenas uma amostra de um clima bastante generalizado em toda a Europa Central, núcleo fundante e mais forte da denominada União Europeia. É verdade que esse clima e esses projetos de lei escondem, por exemplo, uma justa preocupação com os imigrantes "ilegais" e "clandestinos". Infelizmente, uma observação mais acurada vai mostrar que lá no fundo ressurgem velhos fantasmas que pareciam para sempre.
    A bem da verdade, é preciso deixar claro que a questão dos imigrantes é muito complexa. Há toda uma tensão que se estabelece entre direitos da pessoa e dos povos e razões de Estado. Por isso se pressupõe  um grande trabalho com as pessoas que pretendem imigrar. Não é apenas questão de do*****entação, mas sobretudo  de caráter sociocultural, político e religioso, do qual os que emigram e imigram devem estar bem conscientes.
      Também  é preciso perceber que o cultivo de um certo nacionalismo é extremamente perigoso. Dachau, o símbolo de todos os campos de concentração do regime nazista, pode parecer hoje apenas um local procurado por turistas. Do ponto de vista mais profundo do seu simbolismo, porém, Dachau será sempre uma eterna lembrança de uma tragédia que nunca mais deveria existir. E com isso, é também um alerta sobre a necessidade de uma eterna vigilância contra os demônios das ideologias que carregam consigo toda a gama de discriminações.
     Não se trata evidentemente de negar os importantes passos que foram dados neste sentido, mas para avançar é preciso igualmente não negar as sombras que começam a se manifestar no horizonte. A esperança de uma revisão de rumos é a última que morre. Mas na direção atual o sonho realmente acabaria por se transformar num novo pesadelo.
      Não é sem razão que a Bíblia dá lugar de destaque ao cuidado que se deve ter com os estrangeiros. A mensagem de Êxodo 23, 9 tem validade perene e universal: "Não oprimas o estrangeiro; vós sabeis o que é ser estrangeiro, pois fostes estrangeiros no Egito".

Fonte: Matéria escrita por:
Dr. Frei Antônio Moser
Teólogo
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Em 21/05/2009