Acompanhando a Semana Mundial de Conscientização do Uso Racional de Antibióticos, organizada pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o curso de Medicina Veterinária da UNIFIMES discutiu a temática entre os alunos de forma aplicada em cada disciplina.

A contribuição do profissional Médico Veterinário é trabalhar com a conscientização da população, elencando as seguintes dicas: somente use antimicrobianos quando prescrito por um veterinário; somente quando necessário: antimicrobianos não curam toda infecção; somente adquira antimicrobianos de fontes e distribuidores autorizados; somente use a dosagem prescrita e respeite a duração do tratamento e período de retirada; e somente use antimicrobianos associado a boas práticas de saúde animal. todos temos um papel a desempenhar. assim conseguiremos preservar a eficácia dos antimicrobianos é essencial para a saúde e bem-estar dos animais e humanos.

Para tanto, a Profa. Ma. Flávia Dorigon, docente responsável pela disciplina de Farmacologia Veterinária, desenvolveu o seguinte texto para discussão do assunto:

 

USO RACIONAL DE ANTIBIÓTICOS EM ANIMAIS

Por Profa. Ma. Flávia Garcia Dorigon

 

Ao longo da história, as doenças infecciosas têm sido uma grande ameaça à saúde humana e animal e uma proeminente causa de morbidade e mortalidade. A introdução de agentes antimicrobianos em meados de 1930 (sulfonamidas) e em 1940 (penicilina) revolucionou a medicina humana por reduzir de maneira substancial as taxas de mortalidade e morbidade das doenças bacterianas. Entretanto, logo foi observado que as bactérias podiam tornar-se resistentes aos antimicrobianos, e cepas resistentes emergiam logo após a introdução de novas drogas.

A resistência é uma consequência natural e inevitável da utilização de agentes antimicrobianos. A exposição a antimicrobianos seleciona bactérias resistentes e resulta em desvantagem ecológica de bactérias suscetíveis. Devido a suas propriedades seletivas intrínsecas, os antimicrobianos têm perdido progressivamente sua eficácia na terapia de várias infecções bacterianas. A emergência e a disseminação da resistência bacteriana associadas com as dificuldades encontradas na descoberta de novos agentes antimicrobianos têm resultado em maiores desafios médicos e graves problemas de saúde pública.

Ao mesmo tempo, o número de animais de companhia tem aumentado substancialmente na sociedade moderna, com estes sendo tratados como membros das famílias, o que resulta em aumento nas despesas com cuidados veterinários e terapia antimicrobiana. Em parte, como resultado dessas mudanças, a utilização de antimicrobianos tornou-se disseminada tanto com os animais de produção como na medicina veterinária.

 Hoje estima-se que mais da metade de todos os antimicrobianos produzidos mundialmente é utilizada nos animais. A resistência aos antimicrobianos se desenvolveu ao longo do tempo, antes da introdução dos agentes antimicrobianos na medicina humana e veterinária. Ela provavelmente surgiu milhões de anos atrás em bactérias produtoras de antibióticos vivendo no solo, e foi subsequentemente transferida para espécies bacterianas de interesse médico.

As bactérias têm desenvolvido vários mecanismos para neutralizar a ação dos agentes antimicrobianos. O mais comum é a inativação enzimática da droga, a modificação ou a substituição do alvo da droga, a ativação do efluxo da droga e a redução da assimilação da droga.

A disseminação da resistência antimicrobiana não respeita fronteiras filogenéticas ou ecológicas. A transmissão do animal para o homem pode ocorrer por vários meios, incluindo suprimentos de alimentos e água, bem como contato direto com animais e fezes. Genes de resistência podem ser transferidos entre bactérias que pertencem a espécies não relacionadas e originam distintos nichos ecológicos. Elementos genéticos móveis albergando genes de resistência podem com facilidade transferi-los horizontalmente entre bactérias de animais terrestres, peixes e humanos.

A resistência antimicrobiana é um problema de saúde pública global, e as crescentes evidências científicas indicam que esta é negativamente impactada pelo uso de antimicrobianos em humanos e animais.