A pêra-do-campo é uma fruta desconhecida pela maioria da população brasileira. Alguns, mesmo nos meios acadêmicos, chegam a acreditar que ela seja um produto da natureza já extinto, em razão da destruição dos nossos cerrados e, em especial, dos chapadões, onde podia ser encontrada quase que exclusivamente.
Para mim, que nasci à beira do Sucuriú, no dia 06 de dezembro de 1956, quando o cerrado estava em pé, essa fruta não constitui novidade alguma. Eu cresci saboreando o delicioso suco que dela era extraído. O cerrado era algo pródigo, bonito, admirado. Ele nos fornecia a maioria das estações do ano. Fora as da chuva e da seca, tínhamos as do pequi, do cajuzinho, da gabiroba, da mangaba, do arati***** etc. Também as flores e os pássaros impregnavam o sertão de beleza. Havia a época certa para tudo, até mesmo para o aparecimento das onças passageiras, que subiam do Pantanal para os chapadões e voltavam destes para o lugar de origem, tendo como pontos de passagens as furnas das micro-bacias sedimentares em que se encontravam os humanos, escondidos da civilização.
Dias antes de meu nascimento, nas Minas Gerais, João Guimarães Rosa deu à luz uma extraordinária obra-prima de nossa literatura, com descrições sublimes de nossos campos: Grande Sertão: Veredas. Nela, o sertão, é assim definido pelo velho jagunço Riobaldo, quase sempre entreverado com a vida: “Sertão! Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar” (Op. Cit, p. 22, 14ª. Ed. da José Olympio). E o dito jagunço também era conhecedor de nossa preciosa fruta: “Então eu entrei, tomei um café coado por mão de mulher, tomei refresco, limonada de pêra-do-campo” (Ib., p. 28).
Mas voltemos aos tempos atuais. Há alguns anos, minha irmã mais velha, Fausta Costa Rodrigues, acompanhada de uma de nossas irmãs mais novas, Ozair Dias da Costa, fazia uma exposição de doces caseiros na Feira da FESUV, em Rio Verde – GO. Num dado momento chegou à sua banca um professor de biologia acompanhado de seus alunos. Ao ver um cartaz da pêra-do-campo ali afixado, o professor apresentou-o aos alunos dizendo ser essa “uma fruta já extinta”. Fausta o contestou e, diante da insistência do professor, argüiu: “Essa fruta não pode ser considerada extinta porque eu a produzo!”. Pronto! O professor endoidou-se! E a partir daí, Fausta e seu esposo Everaldo, e também Ozair, passaram a ser procurados por acadêmicos, e até pela TV Anhangüera e TV Globo. A dita fruta já foi apresentada nos programas “Fruto da Terra” e “Globo Rural”.
Também o Jornal do Campo, d’O Popular, já apresentou matéria sobre a pêra-do-campo. E se tratava de algo completamente inusitado: uma fruta gigante, de 600 gramas, cultivada por Ozair, em Mineiros. Na referida matéria eu tinha dito que a pêra em questão foi cultivada na fazenda de Everaldo e Fausta, situada no município de Portelândia. Mas, posteriormente, descobri que a mesma foi produzida no quintal da residência de Mineiros. O que importa, contudo, é a dimensão da fruta e seu potencial como alimento. Era isso que eu queria mostrar. E foi isso que o jornal mostrou.
Houve uma época, talvez de escassez de alimento, em que alguns grãozinhos insignificantes dos brejos da Conchichina e de outras partes do mundo foram descobertos por alguém que os utilizou na alimentação. Esses grãozinhos que por milênios alimentavam passarinhos ocupam hoje o segundo lugar na alimentação da população do planeja. Nos meios científicos são denominados de Oryza sativa e cá entre nós os conhecemos como “arroz”. O mesmo se pode dizer da Glycina max, leguminosa conhecida como “soja”. E porque não dizer que o bioma cerrado, caso seja salvo, ainda tem a oferecer muito, em termos de alimento, à humanidade? Temos frutas enormes ainda pouco conhecidas – e muito saborosas! – como o arati*****, e outras que servem para diversas utilidades. Jatobá, pequi, murici, corriola etc. ainda estão à espera da produção em escala comercial. O mesmo se pode dizer da preciosa pêra-do-campo, da qual se pode produzir, além do apreciadíssimo suco, deliciosos licores, doces e sorvetes. E foi com estas quatro preciosidades que celebrei desta vez os 52 anos que acabo de fazer. Ou será que estou errado? Rubem Alves, esse grande filósofo e psicanalista cheio de mutreta, diria que são os anos que acabo de desfazer!
Dias antes de meu nascimento, nas Minas Gerais, João Guimarães Rosa deu à luz uma extraordinária obra-prima de nossa literatura, com descrições sublimes de nossos campos: Grande Sertão: Veredas. Nela, o sertão, é assim definido pelo velho jagunço Riobaldo, quase sempre entreverado com a vida: “Sertão! Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar” (Op. Cit, p. 22, 14ª. Ed. da José Olympio). E o dito jagunço também era conhecedor de nossa preciosa fruta: “Então eu entrei, tomei um café coado por mão de mulher, tomei refresco, limonada de pêra-do-campo” (Ib., p. 28).
Mas voltemos aos tempos atuais. Há alguns anos, minha irmã mais velha, Fausta Costa Rodrigues, acompanhada de uma de nossas irmãs mais novas, Ozair Dias da Costa, fazia uma exposição de doces caseiros na Feira da FESUV, em Rio Verde – GO. Num dado momento chegou à sua banca um professor de biologia acompanhado de seus alunos. Ao ver um cartaz da pêra-do-campo ali afixado, o professor apresentou-o aos alunos dizendo ser essa “uma fruta já extinta”. Fausta o contestou e, diante da insistência do professor, argüiu: “Essa fruta não pode ser considerada extinta porque eu a produzo!”. Pronto! O professor endoidou-se! E a partir daí, Fausta e seu esposo Everaldo, e também Ozair, passaram a ser procurados por acadêmicos, e até pela TV Anhangüera e TV Globo. A dita fruta já foi apresentada nos programas “Fruto da Terra” e “Globo Rural”.
Também o Jornal do Campo, d’O Popular, já apresentou matéria sobre a pêra-do-campo. E se tratava de algo completamente inusitado: uma fruta gigante, de 600 gramas, cultivada por Ozair, em Mineiros. Na referida matéria eu tinha dito que a pêra em questão foi cultivada na fazenda de Everaldo e Fausta, situada no município de Portelândia. Mas, posteriormente, descobri que a mesma foi produzida no quintal da residência de Mineiros. O que importa, contudo, é a dimensão da fruta e seu potencial como alimento. Era isso que eu queria mostrar. E foi isso que o jornal mostrou.
Houve uma época, talvez de escassez de alimento, em que alguns grãozinhos insignificantes dos brejos da Conchichina e de outras partes do mundo foram descobertos por alguém que os utilizou na alimentação. Esses grãozinhos que por milênios alimentavam passarinhos ocupam hoje o segundo lugar na alimentação da população do planeja. Nos meios científicos são denominados de Oryza sativa e cá entre nós os conhecemos como “arroz”. O mesmo se pode dizer da Glycina max, leguminosa conhecida como “soja”. E porque não dizer que o bioma cerrado, caso seja salvo, ainda tem a oferecer muito, em termos de alimento, à humanidade? Temos frutas enormes ainda pouco conhecidas – e muito saborosas! – como o arati*****, e outras que servem para diversas utilidades. Jatobá, pequi, murici, corriola etc. ainda estão à espera da produção em escala comercial. O mesmo se pode dizer da preciosa pêra-do-campo, da qual se pode produzir, além do apreciadíssimo suco, deliciosos licores, doces e sorvetes. E foi com estas quatro preciosidades que celebrei desta vez os 52 anos que acabo de fazer. Ou será que estou errado? Rubem Alves, esse grande filósofo e psicanalista cheio de mutreta, diria que são os anos que acabo de desfazer!
Matéria escrita por:
Josias Dias da Costa
Goiânia, 06 de dezembro de 2008.