Estamos vivenciando um período de crise financeira internacional, provocado pelo estouro da bolha do setor imobiliário norte americano.
     O fato dos EUA não pedir aos clientes que desejavam financiar imóveis residenciais para comprovar renda ou histórico de crédito bom, incidiu no crescente volume de calotes nas liquidações de hipotecas, isto é, o excesso de crédito e a baixa liquidez provocaram a descapitalização dos bancos hipotecários e a quebradeira em série de vários outros.
    O mercado percebe que a economia não vai bem quando determinado setor desacelera a atividade. No caso norte americano, os sinais mais evidentes foram a retração do mercado imobiliário, o aumento dos calotes e o início de uma postura mais cautelosa por parte dos bancos.
    Com a fonte dos financiamentos secando, as empresas de hipoteca começaram a quebrar; clientes tiveram a dívida executada e perderam seus imóveis, demonstrando, desta forma, que o aumento exagerado na oferta de imóveis derrubou os preços, e que a baixa capacidade econômica dos clientes dificultou o refinanciamento das dívidas, ou seja, os bancos restringiram o crédito e a economia desacelerou.
      Na tentativa de evitar uma restrição do crédito ainda maior, o governo americano teve que intervir, aprovando, em regime de urgência, um pacote de socorro aos bancos na faixa de U$ 700 bilhões de dólares. O Banco Central Americano reduziu a taxa de juros, de 5,0% a.a. para 3,0% a.a., medida essa que tem por objetivo a redução do impacto atual na economia americana e minimizar as seqüelas, pois quem está com dificuldade para pagar as contas deixa de ser um consumidor em potencial. Suas dívidas serão contraídas a partir de agora para quitar os empréstimos antigos. Reaparece, então, o vilão que deu origem à crise: empréstimos com baixas taxas e alto risco de calote.
      Não podemos ignorar que o mais importante não é a redução dos juros, mas, a oferta de liquidez (recursos), e é exatamente isso que os Bancos mundiais estão fazendo, em ação conjunta com o FED, ao injetar bilhões de dólares em troca de títulos dos Bancos em crise, na tentativa de evitar o colapso do sistema financeiro.
     A crise nos Estados Unidos extrapola suas fronteiras e afeta aos países emergentes, como o Brasil, uma vez que a queda no valor dos imóveis ali reduz substancialmente a riqueza dos consumidores americanos e o desempenho econômico daquela nação, e isso afeta conseqüentemente a economia de todos os países que exportam para os EUA.
     Ainda não se pode estimar o quanto a economia americana vai desacelerar e qual será o impacto final no Brasil e na atividade econômica dos demais países. Alguns analistas acreditam no descolamento dos países emergentes, ou seja, que eles não seriam atingidos por uma recessão nos EUA, já que a China e a Índia poderiam absorver as exportações excedentes. Outros têm opinião diferente. Para esses, a China será afetada por uma recessão nos EUA, por não conseguir arcar sozinha com a situação econômica dos países emergentes.
    Paira no ar a expectativa de como seremos atingidos pela crise norte americana. Por isso, analisaremos criticamente algumas questões concernentes ao assunto:
•    O volume de reservas do Brasil é alto: U$ 200 bilhões de dólares! Por isso, no momento, as nossas condições são boas. Mas, isso pode mudar, se o preço das commodities cair (produtos com preços definidos no mercado internacional). O comércio exterior depende muito destes produtos!;
•    Como as nossas maiores empresas da Bolsa (Petrobrás e Vale) negociam commodities, é conveniente que o seu preço se mantenha em alta;
•    Se a demanda externa diminuir, em função de um desaquecimento econômico, o preço das commodities vai cair. Nesse aspecto, o Brasil depende muito da China e de como aquele mercado irá se comportar.

     O momento é, portanto, de muita expectativa e requer cautela por parte dos órgãos reguladores do mercado. Por esse motivo, o Banco Central do Brasil não deverá afrouxar muito o cinto do crédito, para suprir as demandas existentes com equilíbrio e dentro da capacidade de endividamento da economia brasileira, mantendo desta forma o mercado interno aquecido.
      Para os consumidores emergentes como nós, o mais sensato é não aumentar o perfil de endividamento. Fazendo isso, evita-se a crise de liquidez e o risco de ver o patrimônio adquirido dilapidado, no caso de haver uma recessão acentuada no ritmo de crescimento do PIB brasileiro.
A nossa recomendação final é, portanto, que se use de muita cautela neste momento. Primeiro, poupar. Depois, ir às compras. Agindo assim, além dos ótimos descontos que se pode obter, evita-se, sobretudo, o emaranhar pessoal nas teias dessa crise que está provocando pânico no sistema financeiro internacional.

Fonte: Matéria enviada por
Eco. Nilvan Domingos Barbosa
Diretor Tesoureiro – FIMES