De um lado, mercado brasileiro comemora o crescimento do setor de tecnologia, do outro, lamenta a falta de profissionais qualificados.
     Tente imaginar sua vida sem internet, sem as facilidades das tecnologias, como celular, caixa eletrônico, e-mail, mp3, videogame ou mesmo uma compra de supermercado sem o leitor de código de barras no caixa. Não há como resistir.
      A tecnologia é um caminho sem volta. Nos bastidores de todas essas criações e de seu bom funcionamento, estão os profissionais de tecnologia da informação (TI).
      Hoje, fala-se de um déficit de 50 mil a 200 mil profissionais nos próximos dois anos. O capital humano representa para a tecnologia da informação 70% de seu desenvolvimento. O mercado brasileiro de software e de serviços movimentou, em 2007, US$ 11,12 bilhões, segundo pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes).
       Até o fim de 2008, de acordo com a IDC — empresa de consultoria do mercado de TI — os investimentos no setor devem crescer 9,5%, em relação ao ano passado. O volume ficará no mesmo patamar dos US$ 24 bilhões a serem injetados na Espanha. Espera-se que o segmento de terceirização de TI — outsourcing — possa representar cerca de 30% desses investimentos, segundo dados de um estudo da E-Consulting. Em 2007, foram R$ 12,3 bilhões e, este ano, serão R$ 15,2 bilhões de um total de R$ 46,2 bilhões.
 
Outro lado da moeda
     Apesar das excelentes notícias de investimentos, fusões e expansões, as empresas brasileiras têm dificuldades de se tornarem competitivas a ponto de lutar — de igual para igual — com as indianas.
     O mercado começa a dar passos para internacionalização, como a parceria entre a Mitshubishi e a brasiliense Politec, firmada em abril. O negócio de US$ 100 milhões ilustra a largada rumo ao mercado internacional. "É uma parceria que nos fortalece e traça um novo cenário para empresas brasilienses e brasileiras no mercado de TI mundial", diz o presidente da Politec, Hélio Santos Oliveira.
      As cifras são altas, mas não beneficiam boa parte das micro e pequenas empresas. Essas correspondem a 94,1% das organizações de software e serviços. Poucas conseguem fechar contratos globais. E mesmo as que conseguem enfrentam um problema recorrente: falta de mão-de-obra qualificada.
      Um levantamento da Catho aponta que será necessário formar 100 mil profissionais para atender a demanda dos próximos dois anos. Para a Abes, o déficit será de 50 mil técnicos, graduados, especialistas e pós-graduados. E Filipe Rizzo, da Politec S.A., é menos otimista "vão faltar 200 mil até 2010, 40 mil técnicos, aqueles que têm entre 16 e 24 anos". Para esse profissional iniciante, são oferecidos, atualmente, salários iniciais de R$ 1,5 mil a 2 mil. E a lei de mercado prevalece: se faltam profissionais, o preço da hora trabalhada dos disponíveis vai às alturas.
      Sandra Vaz, vice-presidente de Alianças e Canais da Oracle para a América Latina, defende que, para democratizar a tecnologia, o custo dos serviços tem que ser menor. "As pequenas e médias empresas só vão investir em informatização se o preço for menor, se os produtos forem adequados às suas necessidades. E disso depende também o crescimento de uma pequena livraria, por exemplo."

Oportunidades
     As vagas estão pipocando tanto na iniciativa privada quanto no setor público. De acordo com informações do site de recolocação Manager, há 9.248 vagas disponíveis para TI e informática.
    Na Catho, são 19.787 vagas oferecidas e 2.638 currículos cadastrados. Um levantamento do Correio aponta que entre vagas com inscrições abertas e previstas pelo menos 686 são no governo federal: Serpro (581), Ministério de Ciência e Tecnologia (sem definição) , BNDES (cadastro de reserva), Senado (8), Tribunal de Contas da União (5), Ipea (8), Supremo Tribunal Federal (84), Ministério do Planejamento (15). E os salários são bem atraentes.
     Uma pesquisa da Manager aponta que a remuneração média de um operador de computador em início de carreira é de R$ 1.818 e pode chegar a R$ 2.681. Para um administrador de banco de dados esses valores são de R$ 3.681 e R$ 8.190. Aos mais experientes, como um gerente de sistemas, os rendimentos mensais podem chegar a R$ 17.227.

Fragilidade
     O presidente da Abes, Ricardo Kurtz, traça a fragilidade da educação que formam futuros colaboradores. "Não adianta eu querer capacitar alguém que não tem noção de lógica ou matemática básica, e sem falar no inglês, que é essencial."
      Ele também aponta que a falta de um número maior de instituições de ensino superior públicas que ofereçam cursos — de informática, processamento de dados, sistema de informação, ciência e engenharia da computação — colabora para que a situação se perpetue. "Quase 90% das faculdades são particulares e muitos abandonam o curso por falta de recursos para terminá-lo", lamenta Kurtz.
      No Distrito Federal, por exemplo, há pelo menos 6,7 mil vagas para cursos da área de informática e somente a UnB é pública. Outra crítica é sobre o tipo de formação. "A teoria das grades curriculares está até atualizada, mas falta experiência prática ainda nos bancos das universidades", detalha Carlos Ferreira, diretor da área de projeto acadêmico da Microsoft.

Fonte: Correio Braziliense