Por várias empresas onde passei havia sempre um adepto do seguinte discurso: eu não levo problemas do trabalho para casa e vice-versa; aqui na empresa eu sou profissional. Ao dizer aquilo o sujeito enchia a boca e estufava o peito enquanto eu tentava imaginar o tipo de mágica necessário para se conseguir desassociar o pensamento de ambientes tão intimamente ligados.
Como dizia a mestra Maria Schirato: você conhece alguma mãe que sai de casa contente para o trabalho ao deixar o filho na cama com 38 graus de febre? Você conhece algum profissional que volta para casa sorrindo, depois de levar uma babada inesquecível do chefe na frente dos colegas?
Assim como é no trabalho, é na vida pessoal. Ambos demandam por responsabilidades, metas e objetivos, avaliações, solução de problemas e conflitos de toda ordem, negociações o tempo todo. Em casa é melhor, pois temos o direito de levantar um pouco mais tarde e trabalhar de cueca, se as esposas deixarem. E geralmente, com jeitinho, elas não contrariam.
Em todas as minhas palestras tenho defendido a indissociabilidade do ser humano no mundo pessoal e no profissional embora existam limites para ambos. É difícil acreditar que alguém possa ser diferente utilizando-se da mesma mente, repleta de histórias e de vícios, e do mesmo corpo.
Em outro artigo mencionei o caso de milhares de pessoas que saem de casa na segunda-feira, descontentes, já pensando na sexta-feira, com a terrível sensação de que a semana será um verdadeiro inferno. Apenas para relembrar, se isso acontece com você, possivelmente você está no lugar errado. Por essas e outras razões é que o imperdível happy hour faz muito sucesso. Ali, você está livre da hostilidade corporativa e pode até praticá-la utilizando-se do suave veneno comumente destilado nas mesas de bares e restaurantes na ausência do patrão, do chefe e dos desafetos.
Todos os dias, a despeito da infinidade de problemas que surgem com freqüência em sua vida, o ser humano tende a vestir a máscara da hipocrisia. Como sua mente não está preparada para ver somente o lado bom das coisas, nem para se render diante dos fatos que parecem óbvios, e para os quais se exige boa dose de humildade, ele sai de casa imaginando o que fazer. No caso, para evitar o encontro com o chefe ou para terminar aquele projeto que há mais de um mês foi solicitado ou ainda quando encontrar o colega com o qual ele não possui a menor afinidade – de fato, eles se odeiam, porém é melhor sorrir para manter o espírito de equipe.
Particularmente, acredito pouco nas pessoas e nos profissionais – e esses são pessoas – que se dizem diferentes em casa e no trabalho. Tenho em mente a imagem daquele sujeito que foi eleito o empresário do ano, o líder do ano, o político do ano, a personalidade do ano, entretanto, sua vida pessoal é o caos. De dia sorri para a equipe, de noite enche os filhos de palavrões.
”Na ocorrência de coisas desagradáveis entre vizinhos, o medo chega rápido ao coração e exagera o efeito na outra parte; mas ele é um mau conselheiro e todo homem é na verdade fraco e na aparência forte. A si mesmo, ele parece fraco; aos outros, formidável.”, afirmava Emerson.Se “somos aquilo que fazemos repetidamente” e repetidas vezes nossa maior preocupação é concentrar energia no sucesso alheio e nos defeitos alheios, não importa o ambiente em que nos encontramos, seremos sempre personagens movidos ao equívoco permanente, com pouca capacidade de discernimento e com tendência ao pré-julgamento, na ponta da língua e no fundo da mente.
O mundo espera muito de nós, conseqüentemente, é necessário manter-se fiel ao nosso elemento de vida, a verdade. Quando você se mantém fiel a si mesmo e a consciência está em sintonia com o seu coração, as decisões fluem com mais naturalidade e senso de justiça. Neste caso, não importa o campo de batalha.
Convenhamos, é extremamente difícil ser justo e manter a tranqüilidade sob pressão, quando o emprego está em jogo, quando as contas estão vencidas ou quando a família está desunida. Poucos de nós foram treinados para enfrentar as adversidades com a serenidade que tanto almejamos e ainda exigimos firmeza e equilíbrio por parte dos filhos, dos amigos e dos colegas. Nem sempre aquele que nos aconselha utiliza o mesmo conselho para resolver os próprios dilemas.
Todo ser humano é refém dos próprios pensamentos, portanto, todo pensamento é também uma prisão. Ele tem o dom de escravizar a si mesmo e de antecipar problemas que nunca acontecem da forma como imagina, o que o leva à demissão antes da hora, ao pré-julgamento, ao desequilíbrio físico e psicológico, ao sofrimento desnecessário.
Definitivamente, não há como separar o lado humano e o profissional. O que muda é a percepção do ambiente, a forma como abordamos determinados assuntos e os limites que conseguimos impor a nós mesmos para conservar o caráter e a reputação em ambientes distintos, mas complementares.
Depois de quarenta e poucos anos de vida, e muita martelada na cabeça, posso dizer que aprendi um bocado nesse mundo corporativo, motivo pelo qual divido com vocês algumas dicas que podem ajudá-lo a equilibrar os dois lados, com menos sofrimento e mais discernimento, se julgar conveniente aplicá-las por livre e espontânea vontade em sua vida pessoal e profissional.Acredite ou não, elas funcionam muito bem se você tiver a humildade de olhar para dentro de si mesmo a fim de manter a integridade em ambientes que exigem, de maneira equânime, princípios e valores inegociáveis, caso contrário, isto não lhe servirá para nada.
Pense no seguinte:
1) Você conhece milhares de pessoas, mas conta nos dedos aqueles que realmente pode chamar de amigos. Não existe esse negócio de amigos na vida pessoal e amigos no trabalho. Amigos são amigos e ponto final, no trabalho ou fora dele.
2) O ser humano é indissociável, assim sendo, as emoções da relação pessoal e profissional estão intimamente ligadas. Procure equilibrar os dois lados, pois ambos precisam de você e vice-versa.
3) Mais importante do que a pressão exercida no trabalho, acredite, existe vida fora dele. A família te espera em casa de braços abertos, desde que você adote na íntegra o conceito de família; para onde você corre quando perde o emprego? Eu corri para os braços da minha querida esposa e dos meus filhos quando aconteceu comigo e, graças a Deus, fui muito bem recebido.
4) Não seja pedante e não deixe que a fama lhe suba à cabeça. Quanto maior o cargo, maior o tombo, mais difícil a recuperação. Poucos estão preparados para recomeçar a caminhada depois de perder o crachá, o plano de saúde, o vale-refeição e, principalmente, o sobrenome da empresa; no fim das contas, o que conta mesmo é o seu sobrenome de nascença;
5) Trate bem as pessoas, independentemente do nível hierárquico, o delas e o seu. Em cargos de liderança, se tiver que demitir alguém, seja direto, gentil e transparente, mas não tripudie. É um momento difícil para ambos, a menos que você seja desprovido de hormônios.
6) Felizmente, o mundo corporativo sobrevive sem você. Portanto, não o carregue nas costas nem se deixe escravizar por uma quantia de dinheiro que nunca será suficiente para compensar o tempo e a saúde que você perde enquanto tenta provar para a família e para o chefe o quanto você é capaz; entretanto, enquanto estiver a serviço de alguém, dê o melhor de si, seja leal e íntegro;
Por fim, lembre-se: não se trata de fazer a família entender o quão importante o trabalho é para você, mas o quão importante você é para a família e para as empresas que confiam no seu trabalho. Pense nisso, sofra menos, seja mais humano, mais ativo, constituinte e criador do mundo. Seja feliz!
Assim como é no trabalho, é na vida pessoal. Ambos demandam por responsabilidades, metas e objetivos, avaliações, solução de problemas e conflitos de toda ordem, negociações o tempo todo. Em casa é melhor, pois temos o direito de levantar um pouco mais tarde e trabalhar de cueca, se as esposas deixarem. E geralmente, com jeitinho, elas não contrariam.
Em todas as minhas palestras tenho defendido a indissociabilidade do ser humano no mundo pessoal e no profissional embora existam limites para ambos. É difícil acreditar que alguém possa ser diferente utilizando-se da mesma mente, repleta de histórias e de vícios, e do mesmo corpo.
Em outro artigo mencionei o caso de milhares de pessoas que saem de casa na segunda-feira, descontentes, já pensando na sexta-feira, com a terrível sensação de que a semana será um verdadeiro inferno. Apenas para relembrar, se isso acontece com você, possivelmente você está no lugar errado. Por essas e outras razões é que o imperdível happy hour faz muito sucesso. Ali, você está livre da hostilidade corporativa e pode até praticá-la utilizando-se do suave veneno comumente destilado nas mesas de bares e restaurantes na ausência do patrão, do chefe e dos desafetos.
Todos os dias, a despeito da infinidade de problemas que surgem com freqüência em sua vida, o ser humano tende a vestir a máscara da hipocrisia. Como sua mente não está preparada para ver somente o lado bom das coisas, nem para se render diante dos fatos que parecem óbvios, e para os quais se exige boa dose de humildade, ele sai de casa imaginando o que fazer. No caso, para evitar o encontro com o chefe ou para terminar aquele projeto que há mais de um mês foi solicitado ou ainda quando encontrar o colega com o qual ele não possui a menor afinidade – de fato, eles se odeiam, porém é melhor sorrir para manter o espírito de equipe.
Particularmente, acredito pouco nas pessoas e nos profissionais – e esses são pessoas – que se dizem diferentes em casa e no trabalho. Tenho em mente a imagem daquele sujeito que foi eleito o empresário do ano, o líder do ano, o político do ano, a personalidade do ano, entretanto, sua vida pessoal é o caos. De dia sorri para a equipe, de noite enche os filhos de palavrões.
”Na ocorrência de coisas desagradáveis entre vizinhos, o medo chega rápido ao coração e exagera o efeito na outra parte; mas ele é um mau conselheiro e todo homem é na verdade fraco e na aparência forte. A si mesmo, ele parece fraco; aos outros, formidável.”, afirmava Emerson.Se “somos aquilo que fazemos repetidamente” e repetidas vezes nossa maior preocupação é concentrar energia no sucesso alheio e nos defeitos alheios, não importa o ambiente em que nos encontramos, seremos sempre personagens movidos ao equívoco permanente, com pouca capacidade de discernimento e com tendência ao pré-julgamento, na ponta da língua e no fundo da mente.
O mundo espera muito de nós, conseqüentemente, é necessário manter-se fiel ao nosso elemento de vida, a verdade. Quando você se mantém fiel a si mesmo e a consciência está em sintonia com o seu coração, as decisões fluem com mais naturalidade e senso de justiça. Neste caso, não importa o campo de batalha.
Convenhamos, é extremamente difícil ser justo e manter a tranqüilidade sob pressão, quando o emprego está em jogo, quando as contas estão vencidas ou quando a família está desunida. Poucos de nós foram treinados para enfrentar as adversidades com a serenidade que tanto almejamos e ainda exigimos firmeza e equilíbrio por parte dos filhos, dos amigos e dos colegas. Nem sempre aquele que nos aconselha utiliza o mesmo conselho para resolver os próprios dilemas.
Todo ser humano é refém dos próprios pensamentos, portanto, todo pensamento é também uma prisão. Ele tem o dom de escravizar a si mesmo e de antecipar problemas que nunca acontecem da forma como imagina, o que o leva à demissão antes da hora, ao pré-julgamento, ao desequilíbrio físico e psicológico, ao sofrimento desnecessário.
Definitivamente, não há como separar o lado humano e o profissional. O que muda é a percepção do ambiente, a forma como abordamos determinados assuntos e os limites que conseguimos impor a nós mesmos para conservar o caráter e a reputação em ambientes distintos, mas complementares.
Depois de quarenta e poucos anos de vida, e muita martelada na cabeça, posso dizer que aprendi um bocado nesse mundo corporativo, motivo pelo qual divido com vocês algumas dicas que podem ajudá-lo a equilibrar os dois lados, com menos sofrimento e mais discernimento, se julgar conveniente aplicá-las por livre e espontânea vontade em sua vida pessoal e profissional.Acredite ou não, elas funcionam muito bem se você tiver a humildade de olhar para dentro de si mesmo a fim de manter a integridade em ambientes que exigem, de maneira equânime, princípios e valores inegociáveis, caso contrário, isto não lhe servirá para nada.
Pense no seguinte:
1) Você conhece milhares de pessoas, mas conta nos dedos aqueles que realmente pode chamar de amigos. Não existe esse negócio de amigos na vida pessoal e amigos no trabalho. Amigos são amigos e ponto final, no trabalho ou fora dele.
2) O ser humano é indissociável, assim sendo, as emoções da relação pessoal e profissional estão intimamente ligadas. Procure equilibrar os dois lados, pois ambos precisam de você e vice-versa.
3) Mais importante do que a pressão exercida no trabalho, acredite, existe vida fora dele. A família te espera em casa de braços abertos, desde que você adote na íntegra o conceito de família; para onde você corre quando perde o emprego? Eu corri para os braços da minha querida esposa e dos meus filhos quando aconteceu comigo e, graças a Deus, fui muito bem recebido.
4) Não seja pedante e não deixe que a fama lhe suba à cabeça. Quanto maior o cargo, maior o tombo, mais difícil a recuperação. Poucos estão preparados para recomeçar a caminhada depois de perder o crachá, o plano de saúde, o vale-refeição e, principalmente, o sobrenome da empresa; no fim das contas, o que conta mesmo é o seu sobrenome de nascença;
5) Trate bem as pessoas, independentemente do nível hierárquico, o delas e o seu. Em cargos de liderança, se tiver que demitir alguém, seja direto, gentil e transparente, mas não tripudie. É um momento difícil para ambos, a menos que você seja desprovido de hormônios.
6) Felizmente, o mundo corporativo sobrevive sem você. Portanto, não o carregue nas costas nem se deixe escravizar por uma quantia de dinheiro que nunca será suficiente para compensar o tempo e a saúde que você perde enquanto tenta provar para a família e para o chefe o quanto você é capaz; entretanto, enquanto estiver a serviço de alguém, dê o melhor de si, seja leal e íntegro;
Por fim, lembre-se: não se trata de fazer a família entender o quão importante o trabalho é para você, mas o quão importante você é para a família e para as empresas que confiam no seu trabalho. Pense nisso, sofra menos, seja mais humano, mais ativo, constituinte e criador do mundo. Seja feliz!
Fonte: www.rh.com.br
Escrito por
Jerônimo Mendes
É professor universitário, palestrante e administrador de empresas formado pela FAE – Faculdade Católica de Administração e Economia.